O “Espírito de Almeirim”, origem e significado - História de Almeirim (10)


Com vinda de D. Sebastião para Almeirim, fugindo das intrigas e jogos de poder, para daqui governar, o povo associou esta ligação e o “espírito de Almeirim” passou a estar intimamente ligado à identidade de um povo, como essência de uma governação autónoma e independente, que tinha naquele jovem Rei o seu principal símbolo.

A campanha de África foi toda ela preparada em Almeirim, de uma forma precipitada dada a ansiedade real.
D. Sebastião morre durante a batalha de Alcácer Quibir no ano de 1578.
É aclamado Rei o Cardeal D. Henrique, que não tendo filhos e sendo já septuagenário, desde logo coloca a questão da herança do reino.
Essa questão motiva a convocação das Cortes de Almeirim do final do ano de 1579 (1ª fase) e Janeiro de 1580 (2ª fase).

Só a existência deste “espírito de Almeirim”, justifica a escolha do local das Cortes de 1579 e de 1580, para decisão do futuro de Portugal.
Não foi apenas a necessidade de fugir de Lisboa em consequência da peste, que nessa época vitimou mais de 25.000 portugueses, pois outros lugares haveria, para decidir tão importante questão nacional.
A decisão teria de ter o apoio do povo e só em Almeirim, se poderia encontrar uma solução conciliatória com o “espírito de Almeirim” ou destruir para sempre esse mito popular.

Este “espírito de Almeirim”, pela qual continuaremos a identificar o nacionalismo português, teve na época muitos traidores e dois defensores destacados.
Febo Moniz, como Procurador de todo um Povo e D. António Prior do Crato, herdeiro preferido da grande maioria da população.
A razão de ser deste espírito patriótico e nacionalista estar mais enraizado no Povo do que na Nobreza e no Clero, tem uma lógica de fácil explicação.
A mesma explicação servirá para compreender o protagonismo de D. António Prior do Crato e a sua preferência nas escolhas do povo.

Duas razões estão na base da divisão entre os Nobres, na questão da independência nacional.
A primeira porque havia a tradição de aproximação e entrosamento familiar entre as famílias nobres, portuguesas e espanholas, através de acordos de casamento.
Nestes acordos eram frequentes a transferência de regalias e de direitos num ou noutro país.
Os filhos desses casamentos estavam assim numa perspectiva da defesa dos seus privilégios acima da noção de Nação, pois poderiam vê-los garantidos por ambos os Reis.
O Cardeal D. Henrique era Rei de Portugal, mas simultaneamente neto dos Reis Católicos, sujeito por consequência a uma influência pela sua família e de pressões de muitos, que defendiam os interesses de Espanha.
Muitos eram assim os Nobres, que tinham diluído o sentimento nacionalista pela via familiar.
No Clero a mesma coisa.
Por um lado a generalidade dos dirigentes clérigos eram nobres e por consequência tinham a mesma forma de encarar o nacionalismo da forma esbatida, como tentei explicitar.
Por outro lado estavam sujeitos à autoridade do Papa, que com muita frequência defendia com mais fulgor os interesses de Espanha do que de Portugal.

O grande depositário do sentimento patriótico e nacionalista, era assim o Povo, que recordava os seus ascendentes mortos nas batalhas pela independência e tinha saudade dos seus familiares, que em nome de Portugal garantiam a soberania dos territórios espalhados pelo mundo.

As motivações pró-castelhanas, eram estimuladas pela generosidade de Pedro Girão e Cristóvão de Moura, fidalgos portugueses ao serviço do Rei de Espanha, que ofereciam favores e promessas a todos os que apoiassem a causa de Filipe.
Diz-se que nessa época estes dois homens, gastaram verdadeiras fortunas ao Rei de Espanha, na compra da preferência de fidalgos portugueses.

Febo Moniz, foi assim a voz do povo, ao defender com veemência, como inaceitável, uma decisão de escolha de um estrangeiro, como sucessor real.
A sua coragem, a clareza da sua mensagem e a sua determinação fazem dele um herói de destaque nacional.
Ele expressou naquelas Cortes, a vontade de todo o povo, de preservar o “espírito de Almeirim”.

“ que Vossa Alteza oiça o povo e se tiver direito de eleger, eleja Rei português, porque sendo castelhano não será recebido nem obedecido ”

O “espírito de Almeirim”, não foi derrotado nas Cortes de 1580, pois nunca chegaram a deliberar sobre a sucessão da coroa portuguesa.

O já senil Rei Cardeal, morre em Almeirim a 31 de Janeiro de 1580 e fica sepultado na Capela Real, ou de Santa Maria.

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