A localização da Ponte sobre o Tejo…um privilégio de Almeirim - História de Almeirim (29)


A primeira ponte rodoviária sobre o Tejo, foi construída entre Santarém e Almeirim.
Ela foi inaugurada no ano de 1881. Na altura com o seu comprimento de 1.213 metros, foi considerada a maior da Península, a 3ª da Europa e a 6ª do Mundo.
Porque razão esta primeira travessia do maior rio português, foi localizada aqui em Almeirim?
A resposta a esta questão, vai levar-nos inevitavelmente à importância histórica da Vila de Almeirim.
Mas sendo esta uma razão com peso, não é suficiente.
Teremos de adicionar à razão desta escolha, outro tipo de análise justificativa.
Havia entre os Almeirinenses personalidades com muita influência política, no reinado de D. Pedro V, pois foi nessa época, que a decisão de construir a linha de caminho de ferro do Norte e a Ponte sobre o Tejo, foi tomada.
Novamente teremos de falar do Conde da Taipa e de seu cunhado o Conde da Torre, pares do Reino e dos outros grandes do reino, que tinham interesses e propriedades em Almeirim.
O Duque de Cadaval, o Duque de Palmela, o Conde da Atalaia, o Barão de Almeirim, o Visconde de Alpiarça, o Conde do Sobral, o Visconde da Junqueira, o próprio Marquês de Saldanha que era Presidente do Governo, tinha aqui em Almeirim laços de afectividade, desde os tempos das lutas contra o General Macena, na última das Invasões Francesas, mas também porque tinha interesses de natureza fundiária.
Todos estes tiveram certamente muita influência na decisão, mas não apenas por uma questão afectiva, sobretudo pelo seu interesse como proprietários rurais e grandes lavradores na margem esquerda do Tejo.
Estamos então em condições de perceber integralmente a verdadeira justificação da decisão de construir a primeira ponte sobre o Tejo entre Santarém e Almeirim.
Almeirim naquela época, era o centro mais importante da lavoura ribatejana. A agricultura era a actividade económica mais importante e aquela que mais deveria ser fomentada e apoiada.
A guerra civil que terminara em 1834, tinha deixado Portugal na miséria, agora havia que alimentar o povo e dinamizar a economia.
Almeirim foi assim também um pólo de esperança para esta mensagem de desenvolvimento económico e a vinha que então já se plantava o seu instrumento principal.
Na sua inauguração, esta tão ansiada obra foi motivo de grandes festejos de que há inúmeros registos históricos.
Mas há uma surpreendente falta de consciência social em Almeirim para com a ponte D. Luís I, que tem de ter também uma justificação.
Uma obra com tal importância para uma terra, há semelhança do que se passa em todo o lado, é venerada e em Almeirim moderna não há quaisquer sinais dessa veneração.
Tudo se justifica, com o que já foi narrado. Na época da inauguração da Ponte bendita, havia uma grave crise social provocada pela praga da Filoxera, que matava e empobrecia.
Como explicamos já, esta grave crise provocada pela praga, originou uma autêntica revolução social.
A recuperação das vinhas de Almeirim, provocou uma nova e mais forte onda de emigrantes que aqui encontravam trabalho e oportunidades.
Muitos destes, chegados nessa altura, enriqueceram e passaram a constituir a nova elite social e económica. Os outros, aqui ficaram porque tinham aqui o que não encontravam noutros lugares.
Mas todos estes, já atravessaram o Tejo, pela nova ponte.
Não tinham na sua memória, a carência e a ansiedade pela obra, pois nunca tinham tido, nem nunca mais tiveram a necessidade de atravessar barcaça, do porto das barcas até Alfange.

A Vila Vinícola e um novo carisma – História de Almeirim (28)


A interligação com o Porto, através do estímulo produtivo e comercial, motivado pela cultura da vinha, originou uma alteração profunda na fisionomia social e arquitectónica de Almeirim.
A Aristocracia dominante foi rapidamente substituída por uma Burguesia de vitivinicultores, que rapidamente adquiriram a maioria do património da nobreza e construíram através de uma arquitectura muito característica, todo um novo conjunto patrimonial, que passou a constituir a imagem dominante da Vila.
A mais expressiva dessa nova imagem, fica expressa pelas grandes casas forradas a azulejo, construídas através da compra de foros públicos em terrenos pertencentes à Casa Real ou ao antigo Paço.
Há volta do antigo terreiro do Paço, que hoje é o Jardim da República, ficava construído um conjunto de edifícios, onde esta nova Burguesia rural se instalou predominante. Também nas ruas que lhe davam acesso. Almeirim passava a ter uma referência arquitectónica de uma época de grande fulgor económico e de desenvolvimento, iniciada na década de oitenta do século XIX e que se irá prolongar para além da primeira metade do século XX.
Dentro da Vila, apenas uma família aristocrata manteve o seu património. A família do Conde de Sobral.
Os herdeiros do Conde da Taipa venderam todo o património, quase na totalidade a Manoel de Andrade.
Integrava este património histórico a Casa onde esteve alojada a Corte de D. José I, na última estadia Real em Almeirim. Também a Casa que fora a antiga Câmara Municipal e onde se instalou o General Júlio Guerra, tendo sido a sede de todo a obra, a que por simplificação chamamos de “construção da vala”.
A própria ermida do Calvário, que era propriedade do Conde e tinha sido reconstruída sobre as ruínas da antiga Capela de S. Roque, onde rezou S. Francisco Xavier, também entrou neste negócio de transferência patrimonial.
O património do Barão de Almeirim, fora adquirido uma parte pela Câmara Municipal, outra pelo grande negociante e vinicultor Prudêncio da Silva Santos.
A Alorna foi vendida a uma sociedade, que no final de alguns anos tinha como único sócio o Dr. Caroça, um rico médico dentista, que havia feito grande fortuna em s. Tomé e Principe.
A dominância social e arquitectónica da Vila, era agora de famílias de emigrantes…os Andrade, os diversos ramos dos Gonçalves, também dos Godinho, os Martins, os Catrola, os Marques da Cruz, os Torrão Santos, os Rodrigues, os Santo, os Tavares… a que se começavam a juntar os profissionais liberais, médicos ou juristas e também comerciantes.
Paralelamente ganhava consistência a mais numerosa e mais simbólica das classes sociais…os Fazendeiros de Almeirim.
A Casa térrea de Almeirim, é o símbolo mais expressivo dessa magnífica e impar classe social, cuja identidade, ultrapassa claramente a sua natureza profissional e é um fenómeno de grande valor social, pela organização familiar que enraizou e pela mentalidade muito própria com que se soube preservar.
O estudo da expressão familiar e social dos fazendeiros de Almeirim, dariam um interessantíssimo trabalho de investigação sociológico, que deveria motivar investigadores ou universitários.
Outra questão de grande importância é o estudo e posterior registo das origens e do inter-relacionamento familiar dos emigrantes chegados, com as famílias tradicionais da Vila Real. Este será o primeiro projecto identificador, para que fique registado para o conhecimento colectivo, com que se inicia o que chamamos “ Projecto Plataforma de Almeirim “.