A Rainha das Vinhas


Este era o nome por que eram conhecidas em Almeirim, as vinhas da Padilha.
Ainda há muitos almeirinenses vivos e de saúde, que se lembram bem deste apelido.
Plantadas com a nova técnica da enxertia sob bacelo americano, resistente à praga da filoxera, mas da casta tradicional “Fernão Pires”, aquelas vinhas tinham um vigor vegetativo e uma produtividade que as distinguiam.
Elas foram plantadas ainda em terras que eram pertença do senhor Conde da Taipa, D. Gastão da Câmara Coutinho, esse ilustre almeirinense, que membro da Corte se distinguiu na defesa da conciliação da Carta Constitucional com a Constituição de 1820, que acabou com a guerra civil.
A vinha da Padilha é uma vinha centenária, muito provavelmente a mais velha vinha enxertada de Portugal.
Ela existe desde os anos oitenta do século XIX.
Foi Manoel de Andrade, que na época era administrador do Conde, que a plantou.
Era uma vinha grande, muito grande mesmo, que se estendia até a Vale Peixe.
Depois foi sendo dividida pelos descendentes de Manoel Andrade, que a tinha adquirido.
Hoje está reduzida a uma pequena vinha, que está situada quase dentro da cidade.
Ou melhor, a cidade continua a entrar por dentro dela.
Mas é impressionante o vigor que ainda ostenta esta vinha centenária.
Esse seu vigor é a sua mensagem.
“Sou uma vinha simbólica, símbolo de uma terra, símbolo de heróis que salvaram outras regiões vitícolas, estou às vossas portas para que me vejam, para que percebam que se não me matarem, ou apenas uma parte de mim, estão a preservar todo um conjunto de valores, que motivaram a construção da cidade.
Pelo contrário divulguem a minha existência e o que represento, assim encontrarão respostas mais consistentes para a evolução da cidade e dos seus habitantes.
Divulguem a obra dos pioneiros da cidade e dos outros que vieram para cá e adquiriram aqui a sua sabedoria, que os levou a salvar patrimónios mundiais, como são hoje reconhecidas as vinhas do Douro.
Sou uma vinha plantada por um emigrante que se tornou lavrador, junto a mim aprenderam muitos Fazendeiros que foram heróis e que são vossos avós e vossos pais.
Sou a rainha das vinhas de Almeirim, porque esses lavradores e fazendeiros me reconheciam como símbolo de uma época de luta contra a desgraça e como símbolo da oportunidade que produziu a riqueza.
Sou a mais velha vinha de Portugal, pois fui das primeiras da nova época que salvou a viticultura nacional, sou uma vinha da Casta Fernão Pires enxertada em Bacelo americano. Sou assim o símbolo da resistência e da persistência dos homens de Almeirim.”

Património colectivo, não é apenas a obra de pedra, é toda a obra humana com expressivo significado, na evolução dos homens e de uma sociedade, que por esse facto tem de ser preservada, identificada e enaltecida.

Deixo assim um apelo.
Não sou contra a expansão da cidade, muito pelo contrário.
Mas se a cidade continuar a crescer naquele sentido…projectem com imaginação os lotes e os arruamentos de forma a manter viva e referenciada uma parte daquelas cepas, quanto mais não seja num separador central ou numa rotunda…mas preservem nem que seja uma simples cepa centenária, que fique de referência, pois é uma referência de grande significado.

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