Fazendas de Almeirim: "Fernão Pirão" e "Vinha Urbana"


A publicação do Desafio de Almeirim, proporcionou-me já grandes alegrias.
Proporcionou também novos contactos, novas mensagens, que consubstanciam novas oportunidades, para o futuro de Almeirim.
A mais significativa das alegrias, foi o reencontro de uma geração de amigos de infância, que distantes e dispersos pelos afazeres da vida, encontraram através da sua paixão pela sua terra, uma motivação adicional que os mobilizou para iniciarem um trabalho em sintonia com os seus sentimentos de afectividade para com a sua terra.
Está criada uma plataforma de trabalho e acção cívica, de amigos de Almeirim.
Não será nunca uma plataforma de acção política, nem social, pois essas são outras competências de natureza distinta.
Será uma acção de valorização da história, dos costumes e tradições de Almeirim, das suas famílias e das suas obras.
Será um projecto que pretende mobilizar todos os que sentirem esta evidência…a divulgação do património cultural e preservação das obras e costumes do passado é uma premissa essencial para todo o desenvolvimento futuro e uma fonte inesgotável de oportunidades de evolução.

Um outro surpreendente contacto, marcou já o interesse nacional que o lançamento desta ideia, veio suscitar.
Um colega dos meus tempos de estudante no Instituto Superior de Agronomia, faz-me um importante apelo. Trata-se do Professor Catedrático Virgílio Loureiro, que é o mais eminente enólogo português.
Ele pede a minha sensibilidade e colaboração, para defender a preservação de um património nacional, cuja singularidade e identidade só pode ser referênciada nas Fazendas de Almeirim.
Ele escreve-me:
“Gostaria de te entusiasmar a não deixares morrer o "Fernão Pirão" e a vinha urbana das Fazendas de Almeirim - um património vitícola que nenhum país civilizado permitiria que se perdesse. Constatei, com surpresa e desânimo, que nas Fazendas já ninguém se lembra como surgiu a paisagem da "vinha urbana". E quando já não há memória é mau sinal, deixando de se dar valor ao trabalho dos antepassados.”
E descreve-me :
“Feito nas pequenas adegas dos fazendeiros, era um vinho “sem química”, conforme a uva o dava. Tinha, por isso, virtudes e alguns pecados. Nas primeiras, sobressaía a estrutura, a riqueza alcoólica, a sapidez e o “torradinho” do Fernão Pires. Nos pecados, a cor acastanhada, o aspecto nem sempre cristalino e o aroma e sabor algo pesados. Era, pois, um vinho poderoso, que se cortava à faca, saciava ao primeiro copo e não se intimidava, nem perante a sopa à lavrador, nem perante o tinto. Chamaram-lhe “Fernão Pirão” e ainda hoje faz as delícias de alguns fazendeiros de Almeirim. Com o avanço da vinha e a industrialização do vinho, passou a ser feito, em grande volume, na Cooperativa da Gouxa, que o vendia em grandes volumes para as tascas de Lisboa, muitas vezes tingido, pelos armazenistas, com Grand Noir ou Alicante Bouschet, duas castas minoritários na zona, mas com função bem definida. Por isso, um célebre enólogo francês, Nuno Vaissier, que aí se radicou, dizia com toda a convicção: “O melhor cliente do branco é o tinto.”

Sem comentários:

Enviar um comentário