História de Almeirim (3)


D. João I e seus filhos, deram pelo seu exemplo e pela sua acção, um contributo inestimável para a consolidação da cultura portuguesa. Eles são pioneiros na literatura portuguesa e decisivos para trazer para Portugal o conhecimento e as técnicas mais avançadas da sua época.
D. Duarte escreveu o “Leal Conselheiro” e a “Ensinança de Cavalgar em toda a Sela”.
O Infante D. Pedro, escreveu o livro “Virtuosa Sabedoria”.
D. Henrique, que beneficiava dos bens e riquezas da Ordem de Cristo, trouxe para Portugal os melhores cientistas da Europa.
D. Duarte foi o primeiro Rei a fundar uma biblioteca real e nos seus livros demonstra que conhecia muitos autores latinos e italianos.
Esta grande carga cultural dos primeiros Reis da segunda dinastia, foi determinante e essencial para a construção do espírito de Nação e para o seu reconhecimento internacional.

D. Duarte era um homem profundamente inteligente.
Ainda como Príncipe, em vida de seu pai, ele determina-se em mudar a mentalidade dos jovens fidalgos e na sua preparação para as funções ao serviço do Reino.
Escreve o “Leal Conselheiro” nessa perspectiva e foi bem sucedido.
Escreve depois a “Ensinança de bem cavalgar”, que queria ver incluída nos seus conselhos de formação dos jovens fidalgos.
D. Duarte era um cavaleiro exímio, muito dotado e apaixonado pelas práticas de caça a cavalo, em particular da caça grossa, ao toiro bravo, ao javali ou aos veados. Percebeu nessas suas práticas todas as limitações dos cavalos que se usavam, da forma como se montava e tentou encontrar novos cavalos e novas técnicas de equitação.
Importou cavalos de origem árabe da Andaluzia e recebeu mestres da mesma região, que praticavam uma equitação antiga também de origem muçulmana, que se chamava de Equitação à Gineta.
D. Duarte está assim na origem da formação de uma raça de cavalos, seleccionados sistematicamente pelas gerações seguintes, para uma nova forma de montar, para novas exigências da caça e também para exercícios militares e novas tácticas de guerra. São os primórdios da raça Lusitana.
D. Duarte percebeu também, que esta nova aprendizagem e os exercícios de caça era muito exigente em valores humanos que considerava essenciais e que seria uma excelente forma de treino militar.
Escreveu então a “Ensinança de cavalgar em toda a sela”.
Descreve nesse livro os valores humanos essenciais, como a valentia e o domínio do medo, a determinação necessária, o método de treino físico como essencial e também o primado da técnica, da sensibilidade e da inteligência, sobre a violência, para domínio dos homens e dos animais.
O livro vai muito para além da descrição pormenorizada das técnicas de equitação, do domínio e ensino dos cavalos e dos exercícios de destreza e mobilidade, é sobretudo um manual completíssimo de comportamentos humanos e de preparação militar.
Toda esta experiência de D. Duarte, que lhe permitiu esta importantíssima acção de formação dos novos fidalgos, teve um palco privilegiado e esse lugar foi Almeirim.
A dedução lógica, demonstra esta evidência.
Já havia o Paço Real em Almeirim e a Coutada de Almeirim, seria o melhor lugar que o Príncipe poderia encontrar para fazer as suas experiências e a sua acção de treino e formação aos jovens fidalgos.
Também lá chegamos pela comparação de datas dos acontecimentos.
O livro “Ensinança de bem cavalgar” foi publicado em 1434, um ano depois de D. Duarte ter sido aclamado Rei, aos trinta e dois anos de idade.
No ano de 1433, nasce no Paço de Almeirim, seu filho D. Fernando.

Ora sabendo que nessa época a Corte só tinha possibilidades de instalação em Santarém, a presença da família Real em Almeirim, só pode ser justificada, através das práticas desportivas e militares, que entusiasmaram toda a vida o Rei, em particular a arte de lancear toiros.

Sem comentários:

Enviar um comentário