A última estadia da Corte em Almeirim - História de Almeirim (16)



Carta das Montarias da vila de Santarém e da Coutada de Almeirim (1775)
O reinado de D. João V, não foi muito favorável às vivências no Paço de Almeirim.
Os novos hábitos sociais copiados da corte francesa, não eram agora muito compatíveis com a austeridade arquitectónica do Paço de Almeirim e também eram muito diferentes relativamente às tradições nacionais, que tinham tido forte expressão nesta Vila Real.
O Príncipe das Beiras D. José, futuro rei mantinha porém esses gostos antigos, pois era exímio cavaleiro e também aficionado à arte portuguesa da tauromaquia.
Por esse facto D. José frequentou Almeirim e também o Paço de Salvaterra.

O terramoto de 1755, foi dramático para a Vila Real.
O Paço sofreu danos importantes e a Capela Real acabou mesmo por ruir.

Os nobres que aqui tinham património logo reagiram e tentaram que o Rei D. José I, determinasse a recuperação dos edifícios afectados.
Foi uma longa acção de tentativa de influência na Corte, que acabou por ter o efeito do Rei decidir vir até Almeirim para verificar os estragos ou talvez com esta sua decisão tentar impor o seu desejo de recuperar o Paço real.

Não tendo o Paço condições para receber a visita real e sua comitiva foi um rico almeirinense, que disponibilizou a sua habitação para D. José se instalar.
D. Gastão da Câmara Coutinho, senhor das Ilhas desertas e da Taipa, era estanqueiro em toda a região (monopolista da distribuição de tabaco) e essa sua qualidade dava-lhe suficiente dinheiro para ter tido de imediato condições para recuperar a sua própria casa, também ela afectada pelo terramoto.
Como esse palacete recuperado serviria para instalar o Rei e sua comitiva, D. Gastão construiu de raiz uma casa para nessa altura de instalar a si próprio e a sua família.
Esta última habitação, é a casa onde hoje vivo e que meu trisavô comprou a um dos netos de D. Gastão, mantendo em traços gerais o aspecto exterior dessa época, ou seja 1765.
A casa onde D. José se instalou nesse ano de 1767, sofreu modificações exteriores de alguma monta e que lhe alteraram significativamente a sua traça, mas mantém, ao que sempre me foi dito, a mesma imponência que teria nessa época. É uma casa que também foi comprada pelo meu trisavô, a um dos netos de D.Gastão, que passou a ser a habitação de sua família e depois de herdada por um dos seus netos, Vasco Santo Andrade, veio a ter a remodelação já na década de 40 do século XX.

Esta estadia no ano de 1767, do Rei D. José, veio a ser a última estadia da corte, na Vila Real de Almeirim.
Por um lado a recuperação da baixa lisboeta foi a prioridade do Marquês do Pombal, por outro pelo facto dos estragos do Paço de Salvaterra terem sido menores, perante as limitações orçamentais, a recuperação do Paço de Almeirim, foi preterida.

Nessa época em que era almoxarife e primeiro responsável pela Coutada, João da Mota Cerveira, é nomeado Pedro Gualter da Fonseca como mestre-de-obras do Paço, o que ainda permite que alguns mantivessem a esperança da recuperação..
Porém, essas obras deixaram de ter verbas para a sua concretização.
Pouco tempo depois, talvez entre 1772 e 1774, é retirado do Paço de Almeirim, com destino ao Palácio de Sintra, o enorme fogão em mármore, que é uma impressionante obra do renascentismo.
Este acto, marca na prática o fim do Paço Real de Almeirim, como aposento dos reis de Portugal.

D. José antes de morrer, quis prestar uma homenagem à família servidora dos Mota Cerveira, ao fazer publicar no ano de 1777, a Carta de brasão de armas ao bacharel José da Mota Cerveira, cavaleiro fidalgo, filho do anterior almoxarife do Paço.
A família Mota Cerveira, ainda hoje tem vários descendentes directos como habitantes da cidade de Almeirim e deverá ser assim, talvez a mais antiga, das famílias tradicionais da terra.


2 comentários:

  1. Como antropóloga cultural tenho-me vindo a questionar o porquê da História de Almeirim ter vindo a ser 'abafada' ao longo de tanto tempo; queria lhe dar os meus sinceros parabéns por nos divulgar aquilo que há muito parecia estar esquecido.
    Estou a adorar o blog!
    beijinho,
    catarina salazar

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  2. Conterrânea e orgulhosa pela nossa história que confesso, só agora, ter aprofundado um pouco mais. A História é repleta de significados e ter encontrado neste momento, por um mero acaso, este blogue, é interpretado como um sinal.
    Desafio de Almeirim ou o Espírito de Almeirim fez-me sentido. Grata!
    Parabéns pelo blogue!

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