da Vila Real à nobre Vila Rural - História de Almeirim (15)

D. Jaime o 3º Duque de Cadaval

As demonstrações de coragem do infante D. Pedro, futuro rei de Portugal, ao agarrar os toiros pelos cornos, vieram a ocasionar mudanças substanciais na forma de lidar toiros nos festejos tauromáquicos.
Nos limiares do século XVIII, passaram os cavaleiros nobres a tourear a cavalo, mas depois apeando-se rematavam essa lide matando os toiros a pé e de espada.
Esta era uma forma muito mais impressionante e emotiva de enfrentar o toiro e de lhe dar a morte. Esta emoção renovada, veio a ter como consequência uma popularidade acrescida das corridas de toiros.
Foi uma nova fase de rejuvenescimento da tauromaquia que viria a ter, mais uma vez, como palco dominante a Vila Real de Almeirim.

A grande personalidade do toureio equestre deste século é D. Jaime, o 3º Duque de Cadaval (1684-1749).
Os lugares onde ficam registadas para a história as suas maiores actuações são a Praça da Junqueira em Lisboa e a Praça de Madrid. Crónicas da época dizem que quando D. Jaime actuava, havia sempre Praça cheia e que a Junqueira teria uma lotação de mais de 12.000 pessoas.
D. Jaime é reconhecido também como um grande toureiro a cavalo e um grande estoqueador, por muitos cronistas espanhóis da época.
Ele toureou até às vésperas de sua morte.
Mas D. Jaime não foi apenas um toureiro, ele é a primeira referência portuguesa a criar toiros de lide através de uma selecção apurada. Ou seja, ele é o primeiro dos ganadeiros a seleccionar com critério, visando a nova forma de tourear.
Esta sua ganadaria é instalada em Almeirim, nas charnecas da Ribeira da Muja (Muje), muito provavelmente a partir de vacas, que pastavam de forma selvagem na coutada real e nos limítrofes.
O facto de D. Jaime se instalar em Almeirim deve estar realcionado com o facto de ter sido casado com D. Luísa de Portugal, filha do Rei D. Pedro II.
D. Luísa casou em primeiras núpcias com D. Luís Ambrósio de Melo, o 2º Duque de Cadaval e irmão de D. Jaime, que morreu muito novo. Porém é muito natural de que todo o património da Casa Cadaval tenha sido oferecido de dote pelo Rei neste primeiro casamento, sendo portanto consistente a hipótese de todo esse vasto património ter sido um destacamento das montarias vizinhas à Coutada Real de Almeirim.
Ao instalar-se nas imediações de Almeirim, D. Jaime centraliza para as proximidades toda uma apetência de outros nobres e Lavradores, que também quiseram iniciar-se na criação de toiros bravos. Outra ganadaria referenciada na mesma época é a de Rafael José da Cunha, que deveria estar sedeada também nos limites da coutada de Almeirim, entre Alpiarça e a Chamusca.
Mais tarde muitos outros nobres, irão adquirir na jurisdição de Almeirim terras, para instalarem nelas as suas ganadarias.

Não se pode afirmar com muita consistência que esta nova procura de terras para instalar ganadarias, tinha um objectivo de actividade económica, pois os toiros não eram ainda nessa época vendidos e a sua carne era normalmente oferecida, para Instituições de caridade. Mas contribuíram para manter algum emprego e atraíam visitantes aos festejos tauromáquicos e por esse facto incrementaram o comércio. Por outro lado esta nova forma de criar animais, veio sim motivar a criação de gado bovino para venda no mercado, para trabalhos de tracção e de transporte.

Almeirim foi assim o centro onde se instalaram as primeiras ganadarias portuguesas e também passou a ser um importante centro de treinos dos grandes cavaleiros toureiros e onde se realizavam muitos e importantes espectáculos tauromáquicos.
Passou também a ser um importante centro de criação de bovinos para a tauromaquia, para o trabalho e para o transporte.

Sem comentários:

Enviar um comentário