Um grande Benemérito de Almeirim; O Conde da Taipa -História de Almeirim (22)


Após o período da guerra civil (1828-1834), consolida-se em Portugal a Monarquia Constitucional. É agora rainha D. Maria II e profundas alterações se irão produzir, pela emergência de uma nova nobreza, pelo surgimento de uma burguesia com influência económica e politica e pelo surgimento de uma classe dominante no mundo rural, que prioritariamente de instala no Ribatejo, os Lavradores. A estes Lavradores se ficará a dever uma boa parte da evolução económica, através da modernização da agricultura portuguesa.

Almeirim foi o centro de toda uma transformação radical dos processos agrícolas, foi o centro de divulgação da mecanização agrícola, que originou a sua modernização e o seu desenvolvimento, podendo mesmo afirmar-se que Almeirim na década de quarenta do século XIX, foi o mais importante centro nacional de experimentação agrária e da sua mecanização.


Para que se perceba melhor porque assim foi, é preciso recordar algumas personagens, que foram decisivas pela sua acção e influência política na época. O primeiro que devemos enaltecer é o Conde da Taipa, que foi o grande e incansável lutador e promotor das duas obras que vieram trazer a nova vocação a Almeirim e estão na base de toda a sua evolução até aos nossos dias. A obra de enxugo e drenagem do Vale de Tejo, que entre nós se costuma chamar “obra da Vala de Alpiarça” e a localização da ponte sobre o Tejo entre Santarém e Almeirim, que irá permitir o escoamento e a ligação fácil dos produtos aos mercados, pela utilização do comboio.


D. Gastão da Câmara Coutinho Pereira de Sande era almeirinense nascido em 1794, filho de D. Luís e neto de D. Gastão da Câmara Coutinho, aquele que recebeu D. José I em sua casa, quando da última estadia da Corte em Almeirim.


Muito jovem foi com a Corte para o Brasil em 1807. Foi assim educado junto de D. Pedro e de D. Miguel, futuros reis de Portugal. No Brasil iniciou a sua carreira militar e voltou para Portugal juntamente com toda a Corte de D. João VI, no ano de 1821. Da sua amizade com D. Miguel, resultarão as inúmeras estadias do Infante em Almeirim e também a sua participação na Vilafrancada.


Com o juramento do Rei D. Miguel da Carta Constitucional, em 1826, é nomeado Par do Reino e inicia uma brilhante carreira política, passando para a história a sua indiscutível coragem e determinação. A sua mais destacada acção politica irá ser a de assumir o principal protagonismo na defesa da conciliação entre a Constituição de 1822 e a Carta Constitucional. Participou na “Belfastada” ao lado do Duque de Saldanha, seu amigo e como ajudante de ordens do Duque de Palmela. Teve por consequência uma acção política e militar determinante de que resultou a Constituição de 1838. De entre os episódios mais notáveis de que foi protagonista, destaca-se a carta que escreveu a D. Pedro IV e que publicou, exigindo o levantamento dos sequestros, a liberdade de todos os sequestrados e a liberdade de imprensa, o que lhe valeu a ordem de prisão. Essa prisão do Conde da Taipa, originou um movimento de apoio de muitos outros Pares do Reino, seus amigos e alguns deles com ligações patrimoniais a Almeirim, como o Duque de Palmela e o Conde da Torre, D. José Trazimundo de Mascarenhas, neto da Marqueza da Alorna “Alcipes”, que era seu cunhado.


D. Gastão, o Conde da Taipa foi também amigo de Almeida Garret e acompanhou-o durante as suas visitas ao Ribatejo, sendo um daqueles a quem o escritor dedica “as Viagens da Minha Terra”. Casado com D. Francisca de Almeida e Portugal, Condessa de Valada, não teve descendência. Seus herdeiros dos títulos, foram seus irmãos Manuel e José, respectivamente 2º e 3º Conde da Taipa, mas que nunca chegaram a ter uma relação de interesse por Almeirim, tendo vendido todo o património local herdado.


Para melhor perceber quanto era influente e respeitado em Almeirim, basta relembrar o que escreveu o médico Tiago do Couto, que aqui vivei entre 1855 e 1859, no seu livro “Breve Notícia de Almeirim”, que foi editado pela Associação de Defesa do Património em 1991 e que aconselho vivamente a todos.


“…de Verão há mais animação na Vila; há os descantes, os bailes de roda, as eiras, as descamisadas dos milhos e após elas os fabricos dos vinhos, em suma há mais distração mas a convivência é pouca…Quando Sua Exª, o senhor Conde da Taipa está em Almeirim o que sucede frequentes vezes no ano, então o caso é outro. Recebe em sua casa alguns indivíduos em cujo número eu entro. Fala-se da Lavoura, de literatura, de tudo; e sua Exª então mostra a vastidão dos seus conhecimentos científicos. O tempo assim não corre – voa.”


A rua Conde da Taipa é a única referência actual a este Homem, que foi essencial para o progresso da sua terra, Almeirim. Nessa rua ainda está, apesar de muito modificada, não tanto na traça e mais nos revestimentos de pedra das cantarias e fachadas, a casa onde viveu e nessa época, todos as terras que iam para o lado de Alpiarça eram dele, incluindo a Gouxaria, que acabou por destacar após partilhas, com seu cunhado D. José Trazimundo Mascarenhas. Essa casa depois de sua morte em 1866, foi comprada a seus herdeiros, por um seu amigo e administrador, Manoel de Andrade, que era meu trisavô.

1 comentário:

  1. ola
    boa noite conheci hoje o seu trabalho ao tentar ajudar o meu filho a fazer um trabalhao do 5º ano sobre a historia de fazendas de almeirim e foi com um feliz agrado que visitei o seu blog onde vou comecar a ler mais vezez e tentar comecar do inicio peço se me indicar quarquer coisa para ler sobre fazendas de almeirim agradeco-lhe do fundo do coraçao
    aidamcfelicio@iol.pt
    muito agradecida
    Aida Felicio

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