Estagnação; Alcipes e o pré romantismo – História de Almeirim (19)


No período que decorre entre o terramoto de 1755 e as Invasões francesas, Almeirim é objecto de diversas tentativas para criar uma nova vocação para a Vila.
Em 1771, na Quinta do Vale de Nabais (Alorna) é iniciada uma enorme plantação de amoreiras, com o objectivo de produção de seda. Esta plantação decorre muito provavelmente do que tinha observado D. João de Almeida, quando da sua estadia na Índia, acompanhando seu pai D. Pedro que foi o 32º Vice Rei da Ìndia. Criar em Portugal um centro de produção de seda foi assim a primeira ideia consistente para dar uma nova vocação a Almeirim. Na sequência desta experiência e nova visão, a Junta da Administração das Fábricas decide instalar em Almeirim a real Fábrica de Algodões da Vila, no ano de 1772. No entanto esta iniciativa não veio a ser consistente porquanto dois anos depois esta fábrica é transferida para Alcobaça, por alvará régio. Mantêm-se porém em Almeirim escolas de fiação e ainda uma secção (partido) manufactureiro de tecidos.
Tinha entretanto, toda a região sido negativamente afectada com o decreto do Marquês do Pombal que impôs o arranque de todas as vinhas do Ribatejo. Pretendia-se com ele dar uma vocação cerealífera aos campos do vale do Tejo e salvaguardar a produção de vinho do Douro. Não era fácil motivar a produção de cereais nos campos do Ribatejo, pela frequência das cheias que introduziam um adicional factor de risco para esse tipo de aproveitamento cultural.
É assim que, durante cerca de quarenta anos, Almeirim está sujeita a um certo impasse pois não foi encontrada uma nova vocação de sucesso, que promovesse sustentadamente o seu desenvolvimento. A coutada real já não era frequentada e a sua guarda não impedia a caça furtiva e a recolha ilícita de mato para estrume das hortas e da agricultura de subsistência que os naturais iam fazendo. Essa ausência de fiscalização, associada aos descuidos, deram origem a vários incêndios alguns deles de elevada proporção.
É precisamente nesse período, em 1792, que o Príncipe Regente D. João VI, ordena a demolição o Paço de Almeirim e nomeia o Conde Soure como provedor dessa execução. Nessa decisão extinguem-se os cargos de almoxarife do Paço, de escrivão, de mestre de obras e de relojoeiro. Curiosamente nessa ordenação dava-se a instrução para que todos os destituídos desses cargos teriam direito a serem pagos, enquanto fossem vivos. Esta ordenação de demolição vai durar muitos anos até ser integralmente cumprida.
Foi também nesse período que se instalou em Almeirim a poetisa Alcipes, Dona Leonor, futura Marquesa da Alorna, na companhia de seu pai D. João de Almeida Portugal, após um prolongado cativeiro de 18 anos, por ser da família Távora e pela acusação de ter emprestado uma espingarda aos conjurados do atentado real. Dona Leonor permanece em Almeirim, onde certamente escreveu muitos dos seus poemas, até ao ano de 1779, quando se casou com o Conde de Oyenhausen e viajou com ele para Viena de Austria. Só voltará a Almeirim após as Invasões Francesas e então aqui permanece primeiro numa luta tenaz pela recuperação do património que fora confiscado a seu irmão D. Pedro, acusado de traidor e condenado à morte por D. João VI e depois vivendo faustosamente e organizando no Palácio da Alorna os célebres saraus políticos e culturais, onde se divulgavam os ideias liberais, de que era militante activa pois foi fundadora da célebre Sociedade da Rosa, organização determinante na difusão do movimento liberal.
Almeirim foi assim também um palco importante do pré romantismo e a Alorna um centro cultural de grande relevo histórico.

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