Os Grandes Proprietários de Almeirim, de antes do Liberalismo. História de Almeirim (17)

D. Pedro de Almeida - 32º Vice Rei da Índia
O relatório do Padre Gaspar Coelho da Silva de 1758, dá conta da afectação que sofreu o Paço e a Capela Real de Almeirim, em consequência do terramoto de 1755, que está comprovado que Almeirim, atingiu o grau 7 de acordo com moderna escala de Richter. O Paço foi afectado mas não ruiu, o que infelizmente aconteceu com a magnífica e imponente Capela Real.
Já narramos a última estadia do Rei D. José I e de sua Corte, no ano de 1767. Esta estadia marca o final da Vila Real e o início de um outro processo, com uma dinâmica já rural e mercantilista, que permite manter a população existente e uma curiosa história de diversas tentativas de vocação, que no decorrer dos cem anos subsequentes irão acontecer.
Comecemos por referir que desde D. Pedro II, passou a haver uma tendência para a constituição de grandes propriedades de alguns fidalgos e também das ordens religiosas, não apenas daquelas, que tinham conventos em Almeirim, mas também das que tinham sedes em Santarém.
O primeiro fidalgo a criar na zona um grande conjunto patrimonial e passar a ser o maior proprietário da região é o 3º Duque de Palmela, que deve ter recebido de dote real, toda essa enorme propriedade que estava sobranceira a toda a margem esquerda da Ribeira de Muge. D. Jaime, o 3º Duque de Palmela, casou com a Infanta ….filha do Rei D. Pedro II.
É ainda como resultado da simpatia de D. Pedro II por Almeirim e da sua presença frequente no Paço Real, que outro fidalgo de grande prestígio começa a adquirir património em Almeirim. Trata-se de D. Pedro de Almeida Portugal, que começa a adquirir muitos direitos patrimoniais, em particular o Casal do Vale de Nabais, que era património de S. João do Alporão. A esta propriedade vai acrescentando varias outras que lhes estavam anexas e aumentando assim todo um vasto património que viria a originar a Quinta da Alorna. D. Pedro de Almeida que foi um dos mais distintos militares e servidores do rei D. Pedro II e de seu filho, que lhe conferiu a sua ultima grande responsabilidade, através da sua nomeação como 32ª Vice Rei da Índia.
Outra grande casa fidalga que se instala em Almeirim, é a Casa dos Condes de Atalaia, que recebem em 1769 a mercê de gestão do Paço dos Negros, passando a deter todo um vasto território patrimonial, que acompanhava toda a margem direita da Ribeira de Muge e tinha sede em Benfica do Ribatejo, a Quinta de Santa Marta.
Em 1781 também os Duques de Palmela recebem vasto património, através de mercê da Rainha D. Maria I a favor de D. Alexandre de Sousa Hosltein e que poderá ser referenciado nos dias de hoje através da Quinta da Lagoalva, cujos domínios territoriais iriam desde a charneca da Parreira até ao Tejo nas proximidades de Alpiarça.
A família Câmara Coutinho, Senhores das Ilhas Desertas e da Ilha de Taipa, era entre todas as que detinham vasto património territorial, aquela que mais intimamente estava ligada à Vila, porquanto o seu Palácio estava situado nas proximidades do Paço Real e todo o seu património rústico se desenvolvia a partir dele, quer na direcção de Alpiarça, quer para Sul nas charnecas limítrofes da Coutada.
A esta referência aos detentores do património fundiário circundante à Coutada e à Vila, que representavam a classe dominante, deveremos acrescentar a Família Mota Cerveira, servidores de várias gerações como Monteiros Mor da Coutada, como Almoxarifes do Paço, como Oficiais de Justiça, sendo em consequência de todos esses serviços, a família merecedora de Brasão de Armas e aquela que teria mais raízes e ligações à Vila.
O ambiente social e económico, de Almeirim desde o Terramoto até á Revolução Liberal e Guerra Civil, é assim tipicamente de carácter feudal, em que estes grandes senhores feudais e também as Ordens Religiosas, garantem a fixação da população, através do relacionamento típico da enfiteuse, dos forais e por último do arrendamento.
Também nesta época, mais precisamente a partir de 1970, começam os aforamentos de terrenos nas imediações do terreiro do Paço, que irão constituir a abertura para a nova construção urbana da Vila.
A Feira Franca de S. Roque, que teria sempre lugar a 16 de Agosto, instituída por alvará do Rei D. João V em 1729, dá uma ideia clara da centralidade regional de Almeirim, nessa época, também como pólo de trocas e venda de excedentes da produção agrícola que era predominantemente de auto-consumo, mas onde estava generalizada a pastorícia e exploração das matas como produtoras de madeira e de matéria orgânica que servia de adubo das hortas e das restantes culturas.

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