A praga devastadora e a crise social - História de Almeirim (26)



Foi na partir do final da década de setenta do século XIX , que surgiu a praga devastadora que matou lentamente uma boa parte dos vinhedos de Portugal.
A Filoxera trouxe uma originou uma grave crise social, pois as vinhas progressivamente foram definhando e lentamente a sua produtividade ia decrescendo.
Cultura que sustentava muita gente, por ser exigente em mão de obra, a crise foi lenta mas muito grave. Os proprietários perdiam a motivação e a capacidade de continuar a contratar os trabalhadores.
A Filoxera foi provocada por um insecto, que se alimentava das raízes das plantas. Os terrenos de aluvião e as vinhas novas e tenras do campo de Almeirim, eram assim um meio muito propício ao desenvolvimento da praga. A praga que na região, apareceu inicialmente na zona de Alenquer, rapidamente se alastrou aos campos do Ribatejo e aí teve um efeito muito rápido e devastador.
Os senhores fidalgos, que também empobreciam, mas que tinham consciência social e preocupações em manter os seus assalariados, criaram a partir de então uma dinâmica que promoveu uma identidade regional, de grande significado. Não tendo dinheiro, mas querendo manter os serviços dos seus empregados, cediam terras em contrapartida dos seus serviços. Os foros cedidos desta forma e originados pela generalizada crise, vieram a criar várias localidades, as Fazendas de Almeirim, os Foros de Benfica, o Casalinho…e mesmo a possibilidade de alargamento urbano nas Vilas de Alpiarça e Almeirim.
Mas o mais significativo, foi que esse processo deu origem a uma classe social, que passou em poucos anos a ser a classe dominante e a mais característica. Os Fazendeiros de Almeirim.
Uma feliz coincidência veio a permitir que Almeirim, passasse a ser o cento nacional da luta contra esta praga devastadora das vinhas de Portugal.
Manuel de Andrade, era filho de uma senhora de Alenquer e aí tinha família também ligada à vinicultura. Ele que tinha sido o responsável geral da obra da Vala, era agora também proprietário vinicultor e simultaneamente administrador do maior proprietário de Almeirim, o Conde da Taipa. Foi através da informação recolhida de seus familiares de Alenquer que conheceu que havia uma forma de combate eficaz à doença devastadora. Através da técnica de enxertia em bacelos de origem americana, resistentes ao ataque dos insectos. Como era uma pessoa decidida e tinha contactos, foi o primeiro a importar de França estes bacelos e a usar a técnica da enxertia.
Nem todos o seguiram inicialmente, preferindo a manutenção das plantações e utilizando o uso de tratamentos com base em sulfitações. Manuel de Andrade antecipou-se e passados poucos anos as suas vinhas encantavam pelo seu vigor e enriqueciam-no através da sua produtividade.
A técnica da enxertia introduzida pelo antigo valador, veio a ser o único método eficaz para a salvação da vinicultura nacional.
Foi por este facto que o Rei D. Luís I, o quis agraciar com um título nobiliárquico, que recusou preferindo manter a sua condição de humildade. Mas este episódio acabou por ser conhecido nacionalmente, pois foi relatado já após a sua morte num órgão de comunicação social de expressão nacional, a Revista Comércio e Indústria.
Almeirim, conseguiu ultrapassar a crise e voltou a ter na vinha e no vinho, a motivação para o seu desenvolvimento.
Mas mais ainda, como narraremos mais adiante, Almeirim e os Fazendeiros de Almeirim, foram determinantes para a recuperação da viti-vinicultura portuguesa e muito especialmente para a reconversão que posteriormente veio a ter lugar dos vinhedos do Douro, salvando-se assim esse importantíssimo património nacional que é o Vinho do Porto.

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